15 de setembro de 2006

Frustrações Religiosas


Os últimos a embarcar agarraram-se pelos dentes, ingénitos ou protésicos, ao comboio amarelo com o desespero dos naufragados e a complacência do maquinista. Ao estrépito da manada em desalinho que penetrou na composição adormecida em Campanhã, sobreveio a algaraviada com sotaque nortenho produzida pela turba, ampliando o risco de síncope aos passageiros mais fracos do miocárdio. E uma ligeira fúria nos demais, que cerraram o cenho e o natural mutismo de quem não pretende ser incomodado.

Debalde. A massa de grunhos, trajada de azul e branco, ignorou a subtileza do reparo, e prosseguiu no debate, caudaloso de inanidades, com fervor religioso. E o mesmo desprezo pelo semelhante dos fanáticos que cultivam o assassínio ritual.

Porque embora não pareça, esses grunhos são de estirpe muito mais nefasta do que aqueles outros a quem o acne baralha e traumatiza (ver A Revolta do Grunho Suburbano): estes são grunhos maduros e doutrinados. Sorvem o catecismo nas bastas capelas do futebol bairrista, entre uma mine e dois coiratos.

E que, regressando da prédica com evidente desânimo, vacilantes na sua Fé diante da fraca récita que os levou ao Estádio do Dragão, tentam exorcizar fantasmas moscovitas com os gritos furiosos dos impotentes.

Ficaram a nulos. Ficaram fulos. E não ficaram por lá.

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